É um clichê que pensamos em evitar, mas não teria por quê, afinal: no dia da Consciência Negra, falarmos de algum ídolo negro do rock. Mas sempre é bom divulgar que, ainda que o rock pareça uma cena predominantemente branca, machista, misógina e homofóbica, sobretudo a partir dos anos 80, ainda existem bons nomes que desvirtuam a tacanhice daquilo que um dia foi essencialmente revolucionário.
Tosin Abasi é um conceituado guitarrista, de ascendência nigeriana, que tem uma carreira discreta, já pelo caminho que escolheu: uma banda instrumental, a progressiva Animals as Leaders, fundada em 2007.
Animals as Leaders chegou agora ao quinto álbum, Encore Edition (2015). O metal progressivo da banda também ajuda a configurar um novo subgênero, o “djent metal”. “Djent” é uma onomatopeia para o som da guitarra tocada com a técnica do “palm muting”, ou “abafamento de cordas”. A falta de um vocalista parece também ser uma característica da qual Tosin não abre mão, mesmo que isso limite seu alcance comercial.
Tosin é discreto inclusive na vida pessoal. Há pouca informação a respeito, deixando muito espaço para especulações. Anos trás, sua sexualidade foi questionada depois de ser filmado vestindo roupas femininas, sobretudo um shorts, que virou por um tempo a cereja do bolo de uma revista de moda.
Ainda que não precisasse, Tosin, sempre elegante e muito pacífico, chegou a dar pistas de como sua presença no rock é realmente revolucionária: “O metal é um tipo de música machista, cheio de testosterona. No metal, você é mais homem se odeia os gays, você é um maricas se gostar de tal banda... Você é gay se vestir shorts feminino. Eu sou hétero, mas essa mentalidade pequena pode ser muito deprimente”.
Seu gosto por ousadias fashionistas lhe rendeu notoriedade também como músico, condição que felizmente se sobrepôs a qualquer polêmica. Ainda assim, Tosin não se deslumbrou e manteve os pés no chão, apesar da modéstia: “Agora eles podem dizer 'Nós podemos desculpar isso, porque ele arrebenta'. Mas não por que sou um ser humano, mas por que eu arrebento na guitarra".
Como não destacar Tosin, com sua consciência, sua postura, delicadeza e talento? O rock pode ter virado branco, machista e estúpido, mas ainda revela algumas esperanças.
Fotos: Divulgação e Tosin Abasi |