Ele não é bem do rock, mas se tornou um dos homens gays que mais se destacaram na música nos últimos anos. Não apenas porque tem suas preferências sexuais assumidas, mas porque as incorpora em seu trabalho e em sua personalidade artística. Jake Shears é o vocalista da banda gay mais bem sucedida deste novo milênio, a Scissor Sisters.
Americana, a banda passou os primeiros anos brilhando bem mais em terras estrangeiras. Considerados “gays demais para os EUA”, a Scissor Sisters conquistou sobretudo os ingleses, mas também os australianos e, claro, os brasileiros. Formada em 2001, passou um tempo batizada de Dead Lesbians, mas depois firmaram o nome definitivo que nada mais é que uma alusão ao sexo lésbico. A Scissors Sisters tem quatro álbuns de estúdio. O último é de 2012, Magic Hour, época em que anunciaram uma pausa na carreira por tempo indeterminado.
A banda se revelou com a cover do Pink Floyd, Comfortably Numb, presente no primeiro álbum. Além disso, chamava a atenção pela performance debochada, alegre e bem afetada, com direitos a provocantes stripteases de Jake. Lançou canções que tanto conquistavam pela energia como pelas letras, que sempre faziam de um modo ou de outro referência à cultura dance gay. O primeiro álbum, homônimo, foi o que mais se destacou, tanto por músicas que estimulavam a “saída do armário”, levando a mãe a uma balada (Take Your Mama), como em momentos mais melancólicos, abordando as drogas e a epidemia da AIDS (Return to Oz).
Considerado por alguns o vocalista mais extravagante desde Freddie Mercury, Jake (na verdade, Jason), sempre fez questão que a Scissor Sisters em nenhum momento fosse uma banda “enrustida”. Sempre defendeu a responsabilidade que os artistas tinham em sair do armário, e da importância de ser feliz “sendo quem é”. Ele sabe que isto tem seu preço, mas sabe também que vale muito a pena.
Nativo da balada, Jake já foi inclusive go-go boy. E abusa da beleza e dos agudos vocais para provocar a plateia e transformar seu show sempre num episódio memorável de liberdade de expressão e sexual. Há tempos ele é pedido aqui e não poderia faltar. A cultura queer agradece a sua presença.