Por esses dias os metaleiros do Brasil tiveram de lidar com uma notícia que estremeceu um tanto com seus ânimos. Alguns excitados, outros apreensivos, mas quase ninguém passou batido da notícia de que Kiko Loureiro, um dos mais famosos guitarristas que temos, integraria agora uma das maiores bandas do metal mundial, a Megadeth.
Há quem tenha achado ótimo, um verdadeiro reconhecimento do metal brasileiro. Há quem tema o quanto essa nova parceria possa afetar a personalidade tanto de Kiko, quanto da banda americana, já que os caminhos percorridos por ambos são suficientemente diferentes. Além, claro, do receio sobre o futuro do Angra, banda da qual Kiko faz parte desde o início dos anos 1990.
Fato é que o guitarrista vai sim dar um novo fôlego aos veteranos do thrash metal e fazer com que a ilha norte-americana tenha contato mais próximo com outro nome tupiniquim. Kiko agora é um dos “big four” da cena thrash e, mesmo que o Megadeth não tenha o tamanho do Metallica, seus riffs serão muito mais prestigiados (vale lembrar ou saber que Kiko já teve algumas páginas da conceituadíssima revista americana Guitar Player dedicada a sua carreira, além de ter sido eleito o melhor guitarrista do mundo pela revista japonesa Burn!).
O Angra apoiou totalmente a entrada de Kiko na banda americana através de sua página no facebook. Não demonstram preocupações sobre o que isso significa agora, depois de pouco mais de vinte anos de estrada e oito álbuns de estúdio (o último, Secret Garden, de 2014). O Megadeth, que já ultrapassa os trinta anos de carreira, parece passar por mais reformulações, com mudanças também na bateria.
O único pesar é que Kiko, nascido Pedro Henrique no Rio de Janeiro, que sempre se mostrou um homem culto, apreciador da obra de compositores de outros estilos, como Tom Jobim, e preocupado com a disseminação da informação de qualidade, dando vídeoaulas na internet, e mantendo uma relação didática e pacífica com seu público, agora se mistura a Dave Mustaine, que nos últimos anos tem contaminado o mundo com sua visão politicamente conservadora e religiosa, parecido com o que faz alguns de nossos bem conhecidos roqueiros oitentistas.
Kiko parece “fino, elegante e sincero”. Bonito também, é claro (mesmo que comportado demais, tirando sempre "a mesma foto" e mal mostrando as carnes por aí). É sem dúvida muito talentoso como multi-instrumentista, tem quatro álbuns solos e, de tão versátil, lá atrás chegou a fazer parte da banda de apoio do grupo Dominó (!). Com tantos predicados, que não se influencie com o lado negro da força e aproveite o que for possível dessa nova fase. E que os gringos se apaixonem por ele tanto quanto nós.