segunda-feira, 21 de abril de 2014

BILLIE JOE ARMSTRONG


A primeira vez que o vi, lá pela metade dos anos 1990, talvez numa performance ao vivo de “She”, estranhei sua cara de drogado, seu jeito de cantar como quem sofre algum distúrbio mental. Não senti nenhuma atração. Nem musical nem física.

Billie Joe, é o que contam, ajudou, à frente do Green Day, a resgatar o punk na grande cena do rock norte-americano e, por consequência, mundial. A banda, fundada no final dos 1980, e projetada no meio punk da Califórnia, sobretudo do clube 924 Gilman Street (Berkeley), ganhou notoriedade com o terceiro álbum, e primeiro por uma grande gravadora, Dookie, de 1994. Um álbum emblemático para o punk, para a banda e até mesmo para o queercore.

Para os ouvidos já habituados ao hard rock e ao grunge, o estilo do Green Day soava realmente renovador e não é difícil entender porque conquistou tanta gente. Inesperado é que o álbum de “estreia” comercial trouxesse ambiguidades sexuais. Sutilezas, é verdade, como a da canção “Coming Clean”, cujos versos “Seventeen and strung out on confusion / Trapped inside a roll of disillusion / I found out what it takes to be a man / Mom and dad will never understand” são declaradamente sobre conflitos de sexualidade, embora não tão óbvios.

Billie Joe assumiu-se bissexual por essa mesma época, mesmo insinuando que nunca tivesse tido relações com outros homens. Em Dookie, tinha a necessidade de falar sobre isso, dar pistas de que a sexualidade era sim uma questão. O principal sucesso, “Basket Case”, trazia uma troca de pronomes com o intuito de causar confusão e mostrar que nem tudo era simples, preto ou branco, “como na época de nossos avós”: “I went to a whore, he said my life is a bore, and quit my whining 'cause it's bringing her down”.

Ainda na época de Dookie, ao sair em turnê para a promoção do álbum, o Green Day chamou para abrir os shows a banda Pansy Division, companheira da época do 924 Gilman Street Club. Pansy Division, como nossos caralhíssimos bem sabem, é uma banda de hardcore com letras sobre relações gays, e talvez esta tenha sido a maior, ou uma das maiores aberturas para o queercore na grande cena. O convite à banda gay mais as declarações e as insinuações de Billie Joe em suas letras quase o tornaram um importante artista queer...

Não fosse, pouco depois, casar-se com uma mulher. E, como tantos outros ídolos "queer", disse gostar deles, mas ficou com ela. A ponto de anos mais tarde já repensar suas declarações e afirmar que não sabe mais se é bissexual. Ainda assim, beijou garotos no palco e homens em festas, sempre no clima jocoso da zueira punk. No musical American Idiot, inspirado no álbum de mesmo nome, que deu novo fôlego à banda na década de 2000, Billie escreveu junto com o diretor dois momentos de tensão homoerótica, uma com o amigo do protagonista ao decidir entrar para o exército e outra com seu alter-ego, traficante de drogas.

O vocalista do Green Day também afirma que sempre foi influenciado por artistas andróginos, como Bowie e Mike Ness (do Social Distortion, quando se maquiava), e gays, como Morrissey e Cretin Chaos (Social unrest), além de preferir as canções que não especificassem um gênero.

Billie Joe Armstrong é um homem bonito, e que se tornou bonito. Já teve revista que o elegeu o homem vivo mais sexy. Mantém uma relação monogâmica com uma mulher e assume a necessidade de preservar sua intimidade para a saúde dessa relação. Hétero ou bi, renovou o punk na década de 1990 não apenas resgatando a sonoridade, mas divulgando a proposta queercore. É bem mais do que esperávamos. Sorte de quem viveu aqueles tempos.

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