quarta-feira, 12 de março de 2014

NEIL FALLON

Muito difícil apresentar e comentar sobre uma banda com dez álbuns de estúdio e com 24 anos de estrada – com a mesma formação, coisa rara hoje em dia. Melhor sentir com algumas audições o universo em que a banda se coloca. Sentir a testosterona dos caminhões e da cerveja, a virilidade de toda a barba farta e da barriguinha que ostenta aquela macheza desleixada e prepotente. Além, claro, do refinado absurdo das letras, arranjadas com um robusto stoner rock.

Earth Rocker é o álbum mais recente da banda Clutch, lançado em 2013 e que conseguiu figurar em diversas revistas especializadas como um dos melhores lançamentos do ano. Pena que a banda até agora não conseguiu fazer shows deste lado de baixo do Equador, porque agentes musicais não acreditam que teria público. Ora essa, senhores? Basta expor a barba e os olhos de Neil Fallon.


Como vocalista e principal letrista do Clutch, Neil, aos 42 anos, está no auge de sua maturidade de macho do rock. Voz forte, enérgica, belos olhos azuis, uma calvície libidinosa e uma barba que tem até página em sua homenagem no facebook. O tipo de barba sem frescura que faria estrago entre as pernas de qualquer um.

Não bastasse sua pessoa, sua música conquista pela pegada que vai do blues ao grunge, sempre mesclando agressividade e deboche, com letras que oram cutucam a política e os costumes, ora os sabores de uma rotina regada a cerveja e muitos pelos, ora discorrem sobre sutilezas e lógicas da vida que apenas quem está bêbado no show pode compreender.

O talento de Neil como letrista é sempre destacado. Irreverente, ácido e absurdo. Canções como “The Elephant Riders”, “Pure Rock Fury”, “Burning Beard”, “Big Fat Pig” “Careful With That Mic” (uma tirada de onda com o rap rock) e “Rock 'N' Roll Outlaw” estão entre as inúmeras desconcertantes desse cara que não consegue aderir à cultura dos singles e constrói um álbum sempre pensando num todo. Que nunca consegue simplesmente sentar e escrever uma canção. Quando tenta fazer isso, o máximo que acontece é ficar bêbado. Canções lhe surgem “do nada” em situações casuais e demoram a ficar prontas, ao contrário dos riffs que produz em sessões com os companheiros.

Do recente Earth Rocker, Neil confessa gostar de “Gone Cold” e “Wolfman Kindly Requests”. Ele também integra a The Company Band, com membros de outras bandas. Com o Clutch, está para lançar um compacto junto com a banda Lionize (também barbuda), com a qual parece manter uma estreita relação. Talvez, lá para outubro, lance mais um álbum e quem sabe num futuro próximo convença as pessoas certas de que são capazes de encher uma casa na América do Sul.


E teremos então a oportunidade de nos deliciarmos com uma das barbas mais sexualmente apelativas do rock and roll.

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