sexta-feira, 31 de maio de 2013

ROBERT TRUJILLO

Ele já tinha uma carreira e uma longa estrada no rock pesado quando voltou a ser um novato, e se submeteu a um teste para integrar a maior banda de heavy metal do planeta. Ele, descendente de mexicanos num país onde isso importa muito, baixinho, troncudo, e um tantinho feioso ou mal-encarado, substituiria alguém que ajudou a construir o auge do sucesso da tal banda e que já conquistara há muito a simpatia do público. Não importavam os anos anteriores, ele agora seria só o novato.

Mas um novato de 1 milhão de dólares. Valor que recebeu para entrar no Metallica, e que simbolizava o quanto ele tinha impressionado Lars, James e Kirk. Essa fase pôde ser conferida no documentário Some Kind Of Monster, em que Trujillo esbanjava simpatia numa banda em crise existencial. Parecia até mesmo um adolescente em meio a uns velhos rabugentos. Entretanto, dez anos se passaram e a formação deu certo e continua.

Penso apenas o quanto pode ser estranho integrar uma banda cuja carreira “já passou” e hoje tenta remoer os frutos do seu auge e angariar novos fãs com sucessivas reformulações sonoras. Trujillo entrou para o Metallica na época do álbum St. Anger, de 2003, com o qual a banda tentou resgatar algum peso depois de ter amenizado o som com os supercriticados Load e Reload, esses por sua vez responsáveis por detonar o prestígio da banda conquistado com tudo que veio antes, sobretudo o black album e o clássico Master of Puppets.

Quando vejo o Trujillo ao lado do Metallica, só enxergo uma banda nova produzindo algo que não conheço. Isto pode ser bom, no final. Principalmente para o baixista novato. Talvez o moço seja o grande novo fôlego do grupo.

Antes, quase todo mundo sabe. Robert fez parte da formação mais popular do Suicidal Tendecies, banda que enfrentou diversos problemas com a censura e até com a polícia, devido a acusações de associação com gangues. O Suicidal chegou a ter seus shows proibidos por dois anos no início da carreira.

Trujilo, contudo, participou da época comercialmente mais bem-sucedida do grupo e sonoramente menos pesada, que rendeu aqueles previsíveis protestos de fãs, que acusavam a banda de ter se vendido. É desse tempo a pop I'll Hate You Better, bem diferente da clássica Possessed to Skate.

Robert sempre teve uma pegada mais funk, e isto o fez formar, ao lado de Mike Muir, do Suicidal, o projeto Infectious Grooves, bem dançante e parecido com coisas do Red Hot Chilli Peppers e Faith No More (de antes do Patton surtar como artista experimental). Depois, se destacou como parceiro de banda de Ozzy Osbourne, da época de Down to Earth e do hit Get Me Through. Nessa fase, as longas madeixas negras de Trujillo dividiam as atenções com as longas madeixas loiras do também caralhíssimo Zakk Wylde, de quem é grande amigo até hoje.

Fisicamente, a primeira vez que vi o Roberto Augustín Miguel Santiago Samuel Trujillo Veracruz (ufa!) o achei bem estranho. Aos poucos é que fui simpatizando mais, percebendo músculos e um sorriso juvenil, numa combinação certeira junto com a virilidade de sua beleza menos óbvia.

Ele tem 47 anos, não muito mais ou menos que os demais da banda, mas tem um jeito de ser bem mais jovem, e meter quieto e bem mais forte. Um índio dando uma surra no caubói.

Not sad, but true.

Some rights reserved