"Quando começamos oficialmente, queríamos ser muito claros quanto a isso. Não víamos qualquer propósito em rodeios".
"Não queremos andar em cima do limite entre uma banda cristã e uma não cristã."
Na prática, são mais uma banda de metalcore, aquele estilo mais reconhecido por mesclar vocais guturais e melódicos, sobre um som realmente pesado. Numa primeira audição, se você tem menos de 25 anos, pode curtir o tal som e passar batido pelo resto, se perceber que existe um resto. Se tem mais, pode curtir o peso do som e de parte dos vocais, pode ainda curtir a outra parte melódica, mas provavelmente vai torcer o nariz quando as duas partes se mesclarem demais, com muita frequencia. Porque até funciona separado, mas junto não, ainda mais pra quem não é jovem o suficiente pra curtir esse "novo metal", bem popular entre a garotada norte-americana.
O que vai pegar, porém, mas só depois, são as letras. Primeiro você pode nem estranhar, afinal uma banda de rock pesado chamada "Caçador de demônios", cujas letras parecem falar mais sobre achar o caminho certo nessa luta sangrenta e conflituosa que é a vida, é algo normal, corriqueiro. Você vai lembrar de tantas outras bandas, algumas góticas, outras "viking", outras sei lá mais o quê, com letras muito parecidas. Mas, de repente, você pode se iluminar e ligar os pontinhos, para então dar um pause: "Será que...?"
Sim. É. A Demon Hunter é uma banda "gospel". Ou, como eles preferem, "cristã". E, como bem afirmam em entrevistas, até cogitaram não ultrapassar os limites que cerceiam o rótulo do não rótulo, mas perceberam que não haveria motivos para isso, porque, se eles eram caras cristãos, não tinham porque negar que a banda também era.
Começaram em 2000, são de Seattle, e já têm seis álbuns de estúdio. O mais recente é True Defiance, deste ano. A banda foi fundada por Ryan Clark e seu irmão, Don, mas apenas Ryan continua, fazendo tanto os vocais melódicos quanto guturais, e também na guitarra. Com sua aparência de urso mau, assusta um pouco os bons moços dos meios que costuma frequentar. Mas o susto logo passa, porque Ryan não tarda a se mostrar um legítimo "temente a deus".
A se mostrar ou a se explicar. Porque, embora afirmem que são cristãos e perambulem entre as bandas gospel, não é tão claro assim na música sua ideologia (ou proposta, como queiram). A partir do momento em que você sabe que as letras são releituras bíblicas ou inspiradas em conceitos religiosos de bem e mal, luz e escuridão, tudo fica límpido como água, mas se ninguém, nem eles, colocar os pingos nos "i", tudo continuará turvo como vinho.
Ryan é lindo. O que causa uma certa tristeza, por saber de suas convicções de vida. Tristeza porque sabemos, nós, público-alvo deste espaço, o rumo que o cristianismo sempre toma. A violência, a avareza, os preconceitos de classe, credo, gênero e sexualidade. Tristeza porque rock é libertação, o contrário de tudo que a religião patriarcal representa. Tristeza ainda porque sabemos, sem hipocrisia, que Ryan só assume o que muitos outros metaleiros omitem, para não segmentarem demais o público.
Fiquemos com o talento de Ryan, e sua beleza. Na fé e esperança de que ele conduza sua carreira na direção ainda inédita aos cristãos: o amor ao próximo.