À época da lista dos 50+ gostosos do Rock, um dos nomes causou mais estranheza que os demais, principalmente aos mais acostumados e defensores de um padrão bem específico (e higienista, por que não?) de beleza: o de Michael Peter Balzary, o esquisito cofundador dos Red Hot Chili Peppers.
Esquisito. Anti. Já por seu apelido: pulga, o inseto minúsculo de que ninguém gosta, aparentemente inútil para a natureza, que só incomoda. Todos riem com ele, até o elegem o segundo melhor baixista da história, mas poucos, ou quase ninguém, o enxergariam com grandes atributos daquilo que ele é, antes de ser qualquer coisa a mais que seja: um homem.
Não é difícil: basta perceber o rosto de moleque travesso, ainda hoje em seu aniversário de cinquenta anos. Flea lembra os tais no colégio que só aprontavam, inquietos, que venciam pelo cansaço e pelo sorriso, que nunca eram apontados como os galãs e pegadores, mas ainda populares, simpáticos, cuja safadezazinha no olhar poderia deixar os colegas molhadinhos.
Começou a carreira vestindo apenas uma meia, e no pau. Hoje, nem isso. Para quê? Se sua nudez sempre foi mais engraçada que sensual, ofuscada inclusive pela nudez do inconteste galã e grande amigo e alma gêmea musical, Anthony Kiedis. Se sua nudez foi totalmente camuflada pelo baixo e os acordes. Quantos peladões conseguiram ser mais artistas que peladões?
O RHCP todos conhecem, besteira apresentar. Tiveram seu som eternamente moleque reconhecido pelo emblemático Hall da Fama do Rock em abril deste ano, numa cerimônia que rememorou todos os integrantes que passaram pela banda, mas, sobretudo, o laço entre Flea e Kiedis.
O que poucos podem lembrar seja talvez suas raras incursões pelos vocais. No Red Hot, a mais curiosa é na música Pea, do álbum One Hot Minute, de 1995, na qual Flea canta sua “pequenez” contra um algoz homofóbico.
Transcending, do mesmo álbum, também vale a pena ser notada, já que, embora cantada por Kiedis, foi composta por Flea em homenagem ao ator River Phoenix, amigo que conheceu durante as filmagens de My Own Private Idaho, longa sobre dois garotos de programa em que fez uma ponta.
“Quando eu penso em River eu não penso sobre sua morte. Não fico triste por isso. Eu penso sobre como inacreditavelmente sortudo fui em ser amigo de uma pessoa que olhava pra dentro de mim e enxergava coisas que ninguém antes enxergou. E essa canção é respeitosamente uma canção de amor para ele.”
Flea também lançou um projeto solo este ano chamado Helen Burns, com participação de Patti Smith na faixa-título. O lucro com o álbum (vendido digitalmente no esquema “pague quanto quiser”) será revertido para o seu Silverlake Conservatory Of Music, organização de educação musical sem fins lucrativos.
Sim, é justo considerar Flea um dos mais importantes músicos de sua geração, um dos melhores baixistas, um grande cara, mas justo também é perceber sua personalidade louca e sexy e sua beleza tão óbvia quanto obscura. Flea deve estar na lista dos mais gostosos, sim. Ele só é feio pra quem não gosta de rock. E esses não interessam.