E numa madrugada, tudo muda.
Neste 28 de setembro chegou a notícia pelas principais redes sociais que o vocalista da banda Cólera, Edson Lopes Pozzi, havia morrido.
O Cólera foi das principais bandas punks do Brasil e a que abriu as portas da Europa para os demais grupos brasileiros. Foi pelo ativismo de Edson, também conhecido como Redson, por suas correspondências e contatos com a cena estrangeira, que o punk brazuca conseguiu começar a fazer as suas turnês internacionais.
A banda surgiu em 1979, fundada por Redson e seu irmão Carlos. Participaram logo da primeira coletânea punk do País, Grito Suburbano, de 1982, ao lado de Inocentes e Olho Seco. Ao contrário de outros grupos da cena, assumiram com o tempo uma postura pacifista, antimilitarista e ecológica, e se destacaram dos punks “baderneiros” e “violentos” ao lançar o álbum Pela Paz em Todo o Mundo, de 1986, que vendeu mais de oitenta mil cópias, recorde para o estilo.
O Cólera também se destacou por sua diplomacia com a mídia, o que lhe rendeu algumas participações em programas de TV e relação com bandas comerciais, como Plebe Rude, ao mesmo tempo que suas músicas gritavam a realidade da periferia paulista e os ideais anarquistas.
A surpresa ao conhecer mais a fundo o perfil da banda, e de Redson, não era rara, devido à imagem violenta, e muitas vezes preconceituosa, a que o punk se associou ao longo dos anos. Cólera, como uma das bandas mais tradicionais e prestigiadas da cena, era confundida com essa cena agressiva, até que fosse dado voz a Redson e ele disparasse posturas antirrepressivas, como quando falou sobre homofobia numa entrevista prum blog da MTV:
“Eu acho que a situação é simples e objetiva: cada um é cada um. O punk propõe essa postura, de você poder ser você mesmo dentro daquilo que você é e ninguém pode te julgar, te condenar ou te dizer o que você tem que ser ou não. Então as pessoas que têm essa postura homofóbica, que discriminam, não só o aspecto sexual, de gays, lésbicas, etc., mas o aspecto de você estar com uma roupa diferente, de você curtir uma outra coisa, de você escutar alguma outra música que não é punk, tudo isso é uma forma repressiva de lidar com essa realidade, então essas pessoas estão te coibindo, estão te pondo numa situação de repressão. E eu sou totalmente contra isso. Eu sou totalmente livre. Eu sou um cara livre, não me interessa o que acham de mim, me interessa o que eu acho de mim, e assim eu vou continuar.”
Há pouco comemoravam as três décadas de banda — provável que a mais longínqua do nosso punk. Uma história que termina, como todas ainda hão de terminar. Fica aqui a nossa lembrança do verdadeiro punk do Brasil.