No dia do Orgulho Gay, quem melhor poderia representar o lado queer do rock? Que critérios estabelecer? No mainstream ou no underground, há inúmeras iniciativas e personalidades que se destacam, de diferentes maneiras, ora abertas, políticas, ora escrachadas, ora sutis. Um militante ou alguém que prezou pela discrição, ou ainda que levantava a bandeira do não levantar bandeiras?
Fred Mercury, os antológicos Gary Floyd e Wayne County, o ativista Martin Sorroundeguy, o assexuado Morrissey, o glam Bowie, os muito sutis Renato Russo e Cazuza? Decidi por aquele que contrariou todas as expectativas e dividiu as águas da vertente mais rígida do rock: o metal. O punk, o hardcore, a cena alternativa, o pop, todos os estilos se mostraram mais maleáveis e abertos às inovações e à diversidade sexual. O metal foi dos poucos a se manter inabalável do alto de sua tradição, valores e estética. Até que, logo ele, o Deus do Metal, revelou sua homossexualidade.
Foi em 1998, na MTV:
“Acho que a maioria das pessoas sabe que tenho sido um homem gay toda a minha vida, e apenas nos últimos tempos isto foi uma questão que me senti confortável para enfrentar (...) sinto que há um momento, e este é o momento para discutir o assunto”.
Um terremoto. Embora longe do Judas Priest há uns anos, a declaração de Halford foi com certeza dos principais episódios da história do metal. Judas era das bandas mais influentes da cena e Halford dos maiores personagens e dos vocalistas mais consistentes, talvez não seja exagero considera-lo até mesmo como o grande líder de uma banda de metal de todos os tempos. Por conta de todo o prestígio que sua homossexualidade declarada é tão significativa.
Embora ele insinue que o metal não é tão homofóbico quanto pareça, ele foi o primeiro da grande cena a se assumir e duvidava que surgissem outros. Ao que se tem notícia, Gaahl, da banda de black metal Gorgoroth, também se assumiu, e os dois se mantêm isolados em seu meio, que talvez, quem sabe, tenha percebido levemente que a sexualidade não tem a ver com virilidade, força, competência, agressividade e nenhuma outra característica que o metal tome para si e como exclusiva e típica dos heterossexuais. Afinal, o maior cantor de metal do mundo... é gay.
Halford se juntou novamente ao Judas Priest há pouco tempo, e estão numa turnê de despedida que passa pelo Brasil em setembro destes 2011. Última chance para conferir uma grande banda, e um grande homem.