sábado, 9 de abril de 2011

NOEL ROUCO

Ele era um adolescente quando formou a Rock Rocket, com mais dois amigos. E lá se vão quase dez anos, num clima quase de improviso – Era pra ter um vocalista de verdade, mas to até hoje de vocalista provisório da banda –, com um lema muito simples (Por um rock and roll mais alcoólatra e inconsequente). Hoje, passadas algumas indicações a premiações da MTV, vários shows pelo Brasil e até um clipe com o Zé do Caixão, a banda se tornou das mais relevantes do nosso rock. E, Noel, dos preferidos deste humilde espaço.

Desde criança eu sempre gostei da coisa mais rock que eu tinha à disposição. Com cinco anos ouvi o disco “Cabeça Dinossauro” do Titãs e foi o meu primeiro disco preferido. Aos dez comecei a escutar Metal, mas eu senti mesmo a pancada quando tinha treze anos e escutei Sex Pistols pela primeira vez.

Minha formação como guitarrista foi fumando um baseado, fechando as janelas do quarto com a luz apagada e tentando acompanhar o Johnny Ramone palhetando só pra baixo no “It`s alive”. Depois que aprendi bem o Ramones acrescentei o Johnny Thunders.

Com o Sol em escorpião, aos seus 27 anos, do alto dos seus 1,82m, pé 42, Noel Rouco nos dá o ar da graça numa entrevista e ensaio fotográfico.

CDOROCK - Fala Noel, muito álcool, sexo e rock'n'roll?

NOEL - No momento bastante, to numa sequencia avassaladora fortemente influenciada pela música “Seven day weekend”.

CDOROCK - Desde o princípio, o Rock Rocket faz alusão a um estilo de vida "desregrado", uma estética hoje limitada a um tipo de rock mais "underground". Como vê o encaretamento das bandas mais midiáticas?

NOEL - Eu acho que é um reflexo do encaretamento do mundo de uma maneira geral, acho que a população está mais careta. Em parte por causa da educação ser ruim e também por causa de eventos do tipo que aconteceram na ultima eleição. Quando espalharam o boato de que um dos candidatos ia legalizar o aborto, todo mundo crucificou e por causa disso esse assunto não vai mais ser debatido de uma maneira racional pelos próximos dez anos, demos um passo pra trás. Mas, bom, voltando ao Rock... Eu acho uma pena as bandas de hoje em dia terem essa postura politicamente correta e não falarem o que pensam pra não correr o risco de queimar o filme ou porque simplesmente não pensam nada mesmo. Nada menos rock do que isso. Os mais prejudicados com isso tudo são os adolescentes que se espelham nessa atitude bunda-mole e falsa. Quando eu era moleque o barato era colar em show punk, ir em manifestação, fora fazer aquelas merdas que você faz quando é adolescente, que depois pensa “puta, podia ter morrido, que estúpido”. O objetivo era perturbar os inimigos da maneira que a gente conseguisse. Hoje em dia ser rebelde é fazer chapinha no cabelo, fala sério... 

CDOROCK - Rock sem sexo e sem drogas ainda é rock?

NOEL - Há cinco anos eu responderia que não, mas hoje penso diferente. Acho que o mais importante é o som, é a guitarra gritando e a postura da banda no palco. Pra ser rock tem que ter atitude e não precisa ser porra-louca pra ter atitude. Se o cara faz o negócio com vontade e sentimento, não importa se usa ou não drogas, se curte putaria ou não. No meu caso, a esmagadora maioria dos meus ídolos eram junkies pervertidos, acho que isso acabou refletindo no tipo de som que o Rock Rocket faz e no tipo de letra que costumo escrever.

CDOROCK - E você usa apenas o álcool ou de vez em quando se aventura um pouco mais?

NOEL - Já usei alguns tipos diferentes de drogas ao longo da vida, sou bem eclético quanto a isso, mas a única que uso sempre é o álcool mesmo. Já fui muito maconheiro, mas hoje em dia to bem de boa, pois eu fico muito devagar e não consigo fazer nada de produtivo. Se fumo um baseado antes de ir pro cinema pode acontecer de eu ter que voltar cinco vezes pro meu quarto pra pegar alguma coisa que eu esqueci, é impressionante.

CDOROCK - É mais fácil pro cara que tem banda ter sexo disponível?

NOEL - Sim, facilita um pouco a vida. Boa parte das mulheres que conheci de alguma maneira foi por causa do Rock Rocket, mesmo que indiretamente. É o meio em que vivo, não tem como fugir muito disso. Mesmo quando você tá em outra situação que não o seu show, o fato de você tocar acaba despertando o interesse. Não sei o porquê disso, mas com certeza influi. 

CDOROCK - Ser vocalista também tem suas vantagens nesse aspecto?

NOEL - Não sei, talvez um pouco...  Mas minha maior vantagem é ser o único solteiro da banda [risos].

CDOROCK - Homens também já quiseram transar com você?

NOEL - Sim, quando eu era mais novo davam mais em cima de mim do que hoje em dia. Acho que devem achar mais fácil “converter” um homem hétero quando ele é mais jovem. Geralmente eram uns caras de meia-idade nuns carrões que me abordavam andando na rua. Acho que se eu fosse gay e tivesse tentado seguir carreira de michê teria sido bem sucedido [risos]. Fora isso já tomei algumas cantadas em balada também, mas como não dou brecha não costumam insistir.

CDOROCK - Acha que se um cara de uma banda como a sua fosse gay, ele teria sexo fácil também?

NOEL - Acho que sim, mas só se ele fosse assumidamente gay porque senão ninguém ia imaginar e não iam abordar ele. Tanto é que nunca um homem deu em cima de mim em show do Rock Rocket.

CDOROCK - A letra de "Quem depilou o meu rabo?" (bem sexy, por sinal), do primeiro álbum, é baseada em fatos reais?

NOEL - Então, essa música na verdade foi uma adaptação que fiz para o português de uma música de uma banda que eu tinha antes, os “Shaved dogs”. Não fui eu quem fiz a letra original, então basicamente não é o meu que tá na reta. Mas acho que não foi baseada em fatos reais, se eu decobrir que foi vai ser uma surpresa e tanto. 

CDOROCK - Algumas letras parecem focar uma romantização do roqueiro. Isso é pra mostrar que vocês também amam, por questões de mercado, ou pra aliviar alguma imagem errada que possam passar?

NOEL - Na verdade não, é mais uma piada mesmo porque no fim é uma música sobre cachaça. A gente nunca interferiu num trabalho nosso por questões mercadológicas, tanto é que no nosso segundo disco a primeira frase é “Vou fumar maconha na estrada”. Isso inclusive chegou a fechar portas pra gente, mas a gente queria porque queira botar ela logo de cara, não me arrependo. Acho que Rock & Roll é liberdade, artisticamente você tem que fazer o que você quer, não o que os outros vão aceitar. E a gente adora passar uma imagem errada, isso é uma das coisas que ainda carregamos da adolescência. Mas com certeza nós também amamos.

CDOROCK - Vocês lançaram um compacto em vinil com as três músicas novas. Por que aderir a esse formato?

NOEL - A gente sempre quis lançar em vinil, era um sonho antigo nosso. É mais bonito, dura mais que a gente, o som é melhor (isso se for um vinil de qualidade, tem uns porcaria também). A gente espera conseguir lançar um LP também do disco novo. O Alan (baterista do Rock Rocket) organiza uma festa chamada “Clube do vinil” aqui em São Paulo, lá no Berlin, onde só rola discotecagem em vinil, espaço pra troca e vendas, é bem legal. O Jun, baixista, também é colecionador.

CDOROCK - Como conseguir esse compacto?

NOEL - O compacto já esgotou, só se ainda tiver em algum site, mas acho difícil. Mas estamos mandando pra fábrica um novo compacto, com três músicas. Um cover de uma música do Plato Divorak em parceria com o Léo Bonfim chamada “A dança do Exciter” e duas músicas inéditas do Rock Rocket, “Jovem, barulhento e arrogante” e “Cristina #3”.

CDOROCK - Acha também o download gratuito inevitável para uma banda hoje em dia?

NOEL - Sim, a gente desde o começo da banda sempre disponibilizou as músicas pra download gratuito, em www.tramavirtual.com.br/rock_rocket. Não adianta ficar com frescurinha, se você não botar, alguém vai colocar. E é um ótimo meio de divulgação, quem baixa música e gosta depois manda pros amigos que não conhecem, acho que essa é a troca com o público. Em vez de dinheiro, divulgação.


CDOROCK - O Rock Rocket parece ser bem influenciado pelo som mais clássico, dos anos 70, por exemplo. Foi a época do melhor rock?

NOEL - Eu  acho que os 50, 60 e 70 se completam de uma maneira incrível, não conseguiria excluir nenhum deles da minha vida. Mas se fosse pra resumir os dois primeiros discos do Rock Rocket numa frase eu classificaria como uma mistura de punk rock com o rock clássico dos anos 50. Simplificando mais ainda: uma mistura de Ramones com Chucky Berry. Agora nesse terceiro álbum estamos tendo a oportunidade de “corrigir” essa ausência dos anos 60 e do Rock Inglês na nossa discografia, mas sem soar nostálgico, é claro; a gente sabe que está em 2011 e nunca teve a intenção de ser igual às bandas que a gente gosta. São as nossas influências, não a definição do que somos.

CDOROCK - Além do Rock Rocket, o que mais presta no rock nacional hoje em dia?

NOEL - As bandas que eu mais gosto aqui de São Paulo são as da zona leste, Modulares, Skywalkers, Haxixins. Apesar de já as conhecer há algum tempo, vi shows delas todas recentemente e foram fodas! Lá de Porto Alegre tenho escutado bastante Plato Divorak e Os Exciters, que tive o prazer de conhecer o ano passado e foi uma das boas surpresas que tive nos últimos tempos. Apesar do Plato já ter uma carreira grande, cheguei meio atrasado.  Gosto também das clássicas como Replicantes, Jupiter Maçã, Camisa de Vênus. Curto bastante surf music instrumental também, dessas as que eu conheço melhor e recomendo são os Retrofoguetes (da Bahia), os Dead Rocks (São Carlos) e os Hitchcocks, também da zona leste de São Paulo. Também sou fã do Zefirina Bomba, de João Pessoa. Uma banda que a gente tem muito público em comum é o Forgotten Boys (SP); apesar das nossas influências serem muito parecidas, cada banda aborda isso de um modo bem diferente, o que acredito ser o motivo de muita gente gostar das duas. Ano passado vi um show do Black Drawing Chalks (GO) e também achei a banda muito boa. Com um pé dentro do Glam Rock tem o Daniel Belleza e Os Corações em Fúria, aqui de SP. De Londrina recomendo os New Ones que também tem um show muito bom. As que me vieram na cabeça agora são essas, mas existem muitas outras bandas por aqui que valem a pena conhecer.

CDOROCK - No início do ensaio, você está com uma camiseta com a estampa do Iggy Pop. Que banda brasileira você indicaria pra ele ouvir?

NOEL - Plato Divorak e Os Exciters.


CDOROCK - Além do rock, o que mais costuma escutar?

NOEL - Eu gosto de Soul, Blues, Reggae, Ska e mais algumas músicas pontuais de outros gêneros, aquelas que te pegam de surpresa.

CDOROCK - E pra quando rola o álbum novo? O que esperar dele?

NOEL - Estamos em estúdio gravando o disco novo, tá bem empolgante! As músicas tão num nível consideravelmente superior a tudo que já produzimos antes, tanto na parte musical quanto nas letras. E tá um disco um pouco mais aberto, vamos manter a energia que sempre nos caracterizou, mas experimentar um pouco mais na produção. Acrescentar instrumentos que não costumamos usar como sax, gaita, teclado. O legal é que as músicas tão mais diferentes entre si do que nos nossos discos anteriores. Tem rock clássico, surf, garagem, até um pouco de soul, punk, tamos conseguindo explorar melhor o potencial das canções. Também é o primeiro disco cheio que gravamos com o Jun Santos no baixo (O último compacto já foi com ele), o que tá contribuindo bastante pra nossa evolução enquanto banda. 

CDOROCK - Voltando às letras, já teve experiência com ninfomaníacas?

NOEL - Sim, dá um trabalho, mas é um trabalho legal, que nem ter banda.

CDOROCK - Numa outra música, você canta que ser dispensado por você não é a pior coisa que existe. O que seria pior do que a tragédia de levar um pé na bunda do Noel do Rock Rocket?

NOEL - Muitas coisas, pra mulher é muito fácil arrumar um cara novo, é só estalar os dedos. Pra gente que é difícil, tem que ir atrás, conquistar a confiança. Por exemplo, pior do que levar um fora, de quem quer que seja, é tomar um fora E morar no Japão. Aí sim é complicado.

CDOROCK - A partir deste ensaio para O Caralho do Rock, pretende assumir o papel de sexy star?

NOEL - [Risos] Não é um dos meus objetivos de carreira e também não creio que eu tenha esse perfil.

CDOROCK - Aposto que você vai surpreender muita gente com essas fotos...

NOEL - É, existe essa possibilidade. Algumas pessoas vão achar engraçado porque sabem que não tem nada demais e com certeza outras vão chiar, faz parte. Só espero que não me tirem da banda [risos].

CDOROCK - A propósito, como consegue manter essa barriguinha bebendo tanto?

NOEL - Apesar de gostar do lado negro da força também gosto de esportes. Jogo bola sempre e faço exercício uns seis ou sete meses por ano. Eu bebo em média uns cinco dias por semana e não é em pouca quantidade. Fora que pra aguentar o pique dum show do Rock Rocket não é moleza, você tem que estar bem. Quando acaba o show parece que eu pulei numa piscina de roupa e guitarra.

CDOROCK - Se te dissessem que você facinho entraria numa lista dos mais gostosos do rock, acreditaria?

NOEL - Não, seria puro xaveco.
Fotos: André Moreira.





Não esqueçam de acessar o site, o myspace, e seguir o twitter da banda, além do twitter do Noel.

Confiram ainda, em Eventos, datas dos próximos shows do Rock Rocket!

Agradecimentos: Rodrigo de Araújo.

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