segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

BRUNO MONSTRO


“A gente é uma banda totalmente independente. E pobre”. Foi como se apresentou, apontando como surge o novo. Pois no exato dia em que Michael Jackson morreu ele fez seu primeiro show com o Twinpines, banda paulista formada em 2003. No entanto, com algum tempo já de estrada, passado por outras bandas, Bruno Monstro, 24 aninhos, é o guitarrista da vez, abrindo este 2010 com um ensaio exclusivo pr’O Caralho.

A propósito, o Bruno também cedeu uma entrevista. Confiram:


CDOROCK - Como você entrou pra banda?

BRUNO - A história é meio longa, apesar de simples. Eu e o Leonardo, que é o vocalista e guitarrista do Twinpines, nos conhecemos desde a terceira série do primário... Somos amigos de infância... Começamos a tocar em bandas na adolescência; tivemos várias. Depois que uma delas (o Red Phones, no caso) acabou, o Léo montou o Twinpines com o Magoo (baterista) e com o Renato (guitarrista e backing vocal). Eu montei o Baby Monstro (de onde veio o meu apelido, que dura até hoje) com outros caras que tocavam no Red Phones e um baterista amigo nosso. Essas bandas se formaram em 2003... O Baby Monstro durou um ano, mais ou menos... E o twinpines rolou. Nela eu já substituí o Renato num show que ele não pôde tocar e fiz algumas participações em alguns shows, tocando uma terceira guitarra e escaleta (aquele tecladinho de soprar)... Ultimamente estava participando de quase todos os shows... Daí no ano passado o Renato saiu e eu fui a escolha óbvia pra substituir o cara...


CDOROCK - Em todas essas bandas você sempre foi o guitarrista?

BRUNO - Sim. No Red Phones eu até cantava, no Baby Monstro também (mas nessa eu mais berrava do que qualquer coisa). Não gosto muito da minha voz e acho que não sou muito bom cantando... Agora, no Twinpines, só faço backing vocals, aí tudo bem porque ninguém presta muita atenção [risos].

CDOROCK - Qual o tipo de som dessas outras bandas?

BRUNO - O Red Phones era um indie rock fofinho... O Baby Monstro era mais sujo, meio grunge, meio metal, sei lá eu... Era esquisito pra caralho. Na real – [risos] –, ninguém entendia direito.

CDOROCK - Chegaram a lançar alguma coisa?

BRUNO - Essas bandas tinham pouca atividade... O Red Phones era uma banda de moleque, todo mundo no colegial e tal. A gente gravou uma demo. Todo mundo tinha 16 anos na época, então não sabíamos muito bem o que fazer com aquilo. Daí não rolou mesmo... Parece que vamos incluir uma música do Red Phones no repertório do Twinpines agora. A gente tocou essa música no último ensaio que a gente fez. Foi bacana. Foi como ressuscitar uma música que tinha batido as botas mesmo. O Baby Monstro durou um ano só, mas não gravou nadica.


CDOROCK - Já o Twinpines parece ter um som mais leve. Como você o classificaria? Como um rock fofinho também?

BRUNO - O Red Phones era mais fofinho, mas o Twinpines tem boniteza também [risos]. Mas acho que o Red Phones tinha essa coisa de ser fofinho porque a gente era muito novo e tal. Também bem ingênuo.

CDOROCK - O termo "indie" é mais apropriado? Ou esse termo não diz mais nada?

BRUNO - É difícil classificar um som... Ninguém gosta. Tem essa coisa de "definir é limitar" e tal. Indie significa independente, só isso. A gente é independente, mas falando de estilo de som, a gente acaba falando indie ou indie rock mais pra dar uma ideia mais ou menos do que a gente toca.

CDOROCK - Então indie continua sendo o inclassificável e o indefinível?

BRUNO - Acho foda classificar qualquer som. É meio desconfortável. Mas as pessoas acabam precisando disso.

CDOROCK - E por que o não ao baixo?

BRUNO - A banda começou com essa formação, inspirada em algumas bandas que também trabalhavam dessa forma. Mas eu toco com a minha guitarra ligada num amplificador de baixo. Sempre monto acordes e linhas bem mais graves, uso encordoamento mais grosso e tal.

CDOROCK - Há uma razão especial para as letras em inglês?

BRUNO - A gente não consegue fazer em português mesmo. Eu admiro quem consegue fazer letras boas em português e existem muitos exemplos disso, desde coisas mais antigas, como Chico Buarque e Roberto Carlos, até coisas mais atuais. Gosto bastante do Cérebro Eletrônico, Família Palim, Superguidis também é fantástico. E eles fazem músicas em português. Gosto do Rogério Skylab também. Só que eu não sei fazer boas coisas em português. O Leonardo tem a mesma dificuldade.

CDOROCK - Você não é o primeiro que diz isso. Por que o português é tão difícil (ou o inglês tão mais fácil)?

BRUNO - Não sei explicar direito, eu acho. Dizem que o português é uma das línguas mais difíceis do mundo. Pode ser isso, não sei.

CDOROCK - Você é assumido. Os caras do Twinpines não se sentiram preocupados em ter um cara gay na banda?

BRUNO - Não, isso nunca foi um problema na banda. Eu e o Léo nos conhecemos há mais de 15 anos... E eu conheço o Magoo já tem um tempão também. Eles são caras tranquilos. Às vezes saem comigo pra lugares gays e tal.

CDOROCK - Mas há possibilidades de a banda assumir alguma postura a respeito da diversidade sexual ou até mesmo disso ser tema nas letras?

BRUNO - A gente tem feito músicas novas e algumas das letras são minhas. E elas tratam de experiências que eu tive, mas não tratam diretamente sobre o tema da homossexualidade. Não sei se a banda assume uma postura com relação a isso. Acho que não tem muito a ver. Eu tenho uma postura e os caras me apoiam. Acho isso bem legal.

CDOROCK - Não existiria então o receio de não ser confundida com uma "banda gay"?

BRUNO - Não, não existe esse receio. Quando eu entrei, a banda já existia e as músicas já existiam. Já existia um primeiro disco todo pronto. Então a banda obviamente não é uma banda gay.


CDOROCK - Mas você já até fez um discurso quase inflamado em show, não? Como foi isso?

BRUNO - No comecinho do show do Mix Music [Festival Mix Brasil] eu quis aproveitar pra dar uns pareceres. Meus irmãos já tinham visto shows do Twinpines comigo, mas meus pais ainda não... Como esse show era de tarde, eles quiseram ir. Aproveitei que eles estavam lá e que era um evento voltado à questão da diversidade pra agradecer minha família, meus amigos que compareceram e os caras da minha banda por terem me aceitado e me respeitado do jeito que eu sou e desejei sorte e força aos gays presentes porque ser gay é foda.

CDOROCK - Seus pais aceitaram bem sua sexualidade?

BRUNO - Eu contei muito novo... Faz uns 10 anos. No começo foi meio difícil, mas hoje em dia é bem de boa. A gente tem uma relação muito bacana.

CDOROCK - Como anda o projeto do primeiro cd?

BRUNO - Ele foi gravado quando eu ainda não estava na banda, mas ainda não saiu porque surgiram diversos tipos de imprevistos que geraram esse atraso todo. Normal. Muita banda passa por isso. Parece que ele finalmente sai ainda nesse trimestre.

CDOROCK - Trabalharão com o esquema de downloads ou só a venda de cds?

BRUNO - Essa parte eu realmente não estou muito por dentro. Esse cd vai sair por um selo e existe um contrato, mas não sei os detalhes dele porque eu não estava na banda. Tomara que dê pra lançar na Internet. Vamos ver.



CDOROCK - E agora lançarão também a trilha de um documentário sobre skate, não é isso? Pode contar um pouco mais sobre o projeto?

BRUNO - Na verdade, não muito. Até porque não sei de grande coisa. Logo que eu entrei, a banda tinha sido Chamada pra compor uma música para a trilha sonora de um documentário sobre skate. A gente decidiu fazer uma com vocal e uma instrumental. O trampo acabou rendendo um pouquinho mais e fizemos duas com vocal e uma instrumental. Gravamos essa trilha em setembro. Quem gravou a gente foi o Rafael Crespo, que tocou no Planet Hemp, no Polara e outras bandas. Foi muito legal fazer esse trampo com ele. O filme vai sair em março. A trilha também. A gente toca esses sons nos shows, mas a gravação só quando o documentário sair.

CDOROCK - Será o primeiro registro com sua participação na banda, certo?

BRUNO - Isso. Compus junto e gravei junto.

CDOROCK - Falando de skate (e logo do estilo), percebo que os outros caras têm um visual mais "folk", com camisas xadrez, óculos, e já tiraram fotos de divulgação no mato. Você destoa um pouco disso, não? Tem um visual mais agressivo... Isso influencia alguma coisa na banda?

BRUNO - Não acho que seja folk não... O lance xadrez vem mais do grunge mesmo. E o óculos é necessidade [risos]. Eu não acho que eu tenha um visual agressivo. Acho que é só a barba. mas eu sempre deixo um bom tempo e depois raspo tudo. Daí fico com cara de bonzinho, sei lá [risos]. Agora eu só dei uma extrapolada. Nunca estive tão barbudo... Não tô com planos pra cortar, por enquanto... É uma questão de testar limites [risos].

CDOROCK - Falando em testar limites, já tocou pelado?

BRUNO - [risos] Não... Acho que seria divertido, mas acho que o Magoo ia achar um saco passar um show inteiro olhando pra minha bunda.

CDOROCK - Mas talvez o público curtisse...

BRUNO - [risos] Quem sabe um dia...

Fotos: Fábio J.

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