domingo, 4 de outubro de 2009

LUCAS SILVEIRA

Ele é O cara. A Fresno, sua banda, é um dos pilares do rock brasileiro atual. Talvez isso soe um pouco triste para alguns, mas é a verdade, e a alegria de muitos outros. A música emo já é o fenômeno jovem mais importante da década, e a vertente musical mais significativa. Não é à toa que eles são o artista do ano da MTV.

De quê? De onde? É o que perguntam os mais azedos. Da MTV, oras, ainda a principal referência de cultura jovem do país. Jovem. Bem jovem, adolescente mesmo, coisa de 12, 14, até uns 16 anos. Os indies já eram, são coisa do passado, ou desses velhos de vinte e tantos ou trinta e poucos. Quem liga pra eles? Velhos, sem importância. Funk, gangsta rap, pagode, axé, Cláudia e Ivete, tadinhas, isso aí tem quem nem considere cultura, perdeu esse status faz tempo, se um dia o teve. Metal, punk, MPB, coisa de velho, nem existe mais. Às vezes surgem uns surfistas, uns skatistas, umas coisas indefinidas, meio qualquer coisa, mas é o Lucas quem está no topo, e tudo o que ele representa.

Dizem que a educação no país está falida, que talvez só existam arruaceiros, putas e malcriados nas escolas. Que talvez só tenha gente burra lá. Gente estúpida, que cultive valores tradicionais e consumistas, que fortaleça a mídia e a aparência, que acredite em Deus, na religião, que fomente o bullying, e só ouça músicas que falem de amor ou sexo, sempre de maneira vulgar, alimentando estereótipos e preconceitos. Não saberiam quem é Sarney, Marina Silva, Dilma, Ciro, ou teriam uma opinião formada a respeito deles, alguma opinião que difira da insinuada pela imprensa. Essa gente é adolescente e boa parte ouve emo. Tem quem o diga.

Os velhos, é o que dizem alguns velhos rabugentos. No entanto, não se pode afirmar o quanto o emo possa ser realmente ruim. Eu, por exemplo, convivo profissionalmente com alguns adolescentes que curtem esse lance e percebo que, tirando Fresno e NX Zero, as bandas mais badaladas são um tanto independentes, de pouca projeção, o que faz a cena não ser tão óbvia e esses jovens conviverem um pouco com as mazelas da indústria e com as questões fama/qualidade, popularidade/importância. É saudável curtir bandas que não são famosas, e quem sabe até xingar as famosas de modinhas. Bandas independentes, “injustiçadas” pelas mídias, nos acalentam ideologias, e nos despertam o senso crítico. Mesmo que elas sejam emo.

Entretanto, confesso que não vejo diferenças entre uma Fresno e uma Hevo 84 ou 35ml, pra mim é tudo a mesma coisa, e não curto que o “screamo” seja usado pra lamúrias ralas, sem poesia, como no caso da banda Glória. Em tempo: o amor não é o problema, nem a tristeza, nem mesmo a futilidade, o hedonismo, a franjinha, o problema é unicamente a qualidade das letras e das músicas. Várias bandas até tocam bem, mas as letras e os vocais são bem ruinzinhos. Alguns vocais só. Mas são essas bandas as donas da cena, do rock de massa, da estética moderna, da própria modernidade, o símbolo da adolescência. Talvez eu os ache ruim porque estou velho. Em tempos em que grandes estrelas do pop são chamadas de múmia aos 50 anos, e ironizadas por ainda quererem cantar e não sair de cena logo de uma vez, em tempos em que um artista da segunda metade dos 90 é o novo dinossauro do rock, eu, do alto dos meus vinte e tantos, não tenho condições de entender e admirar a música que um jovem de 15 ouve. Mais de dez anos é um abismo.

Talvez isso não seja ruim. Tudo passa rápido mesmo, mudanças precisam acontecer. E a adolescência não existe para ser compreendida, muito menos admirada pelos mais velhos. Um adolescente respeitado por um tiozinho não tem importância. Não existe no seu tempo.

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