Um dos responsáveis pela explosão do rock no Brasil, Roberto Carlos é hoje o artista latino com mais discos vendidos, o cantor brasileiro que mais vendeu discos no mundo, o maior cachê do país, o rei da música popular brasileira, o rei da juventude, como apontou o faro ligeiro de Chacrinha, o nosso Elvis, como bem definiu o produtor musical Carlos Imperial, nos idos anos 60.
No final dos anos 50, Roberto lançava seu primeiro compacto, João e Maria / Fora do Tom (59), bem antenado à música jovem que explodia na época. Antes, em 1957, integrava a banda The Sputniks, junto com Tim Maia, que logo abandonou o projeto. Virou também “príncipe da bossa nova” em 61, com Louco Por Você, seu primeiro álbum, um fracasso comercial hoje renegado (alardeado como uma “imitação de João Gilberto”) e verdadeiro diamante em sebos. Mas foi em 62, com Splish Splash, que tudo o que ele é, e tudo o que conhecemos, começou.
Daí uma verdadeira enxurrada de sucessos: Parei na contramão, É proibido fumar, A namoradinha de um amigo meu, Eu sou terrível, Quero que vá tudo pro inferno, todas símbolo de uma juventude e um movimento que desabrochava, o Iê iê iê, o velho rock’n’roll em versão tupiniquim, influenciado pelos americanos e ingleses, em especial pelos Beatles, cujos “yeah yeah yeah”, de músicas como She Loves You, inspiraram o nome do estilo.
O Iê iê iê surgiu tímido, com bandas de mpb e samba que aos poucos substituíam violões por guitarras elétricas e pianos por órgãos eletrônicos. Ganhou força mesmo com a Jovem Guarda, programa de TV apresentado por Roberto Carlos e seus eternos parceiros, Erasmo e Wanderléia. A Jovem Guarda, não preciso dizer, foi uma bomba que definiu a juventude daquela época, a década de 60.
Todo mundo cresceu vendo Roberto Carlos na TV, não dá pra negar que se trata de um mito, daqueles poucos artistas que se tornam uma lenda, um personagem e até mesmo uma caricatura. Mesmo que isso muitas vezes seja ruim, é a irrefutável prova de uma carreira de sucesso. Há muito tempo Roberto é desdenhado, devido a seu contrato cômodo e mercenário com a Rede Globo, a sua religiosidade medonha, a suas superstições e manias bizarras, hoje um pouco mais respeitadas depois que ele assumiu se tratar de um transtorno psicológico, e mais ainda ao prestígio artístico que suas canções há mais de vinte anos não alcançam. Toda obra de Roberto realmente valorizada pertence aos anos 60, 70 e à primeira metade dos anos 80. Depois disso, ficou bem complicado.
Não fosse Raul Seixas ou Arnaldo Baptista, seria Roberto o rei do rock nacional. O problema é que o cantor mergulhou na mpb e na canção romântica já nos anos 70. O álbum “O inimitável”, de 68, já denunciava a transição com “Eu te amo, te amo, te amo”, e “As canções que você fez pra mim”. Os álbuns homônimos e anuais, a partir de 69 (agora com o fim do programa Jovem Guarda), fizeram de Roberto um outro tipo de artista, não menos importante. Alguém que chegou a bater os Beatles em vendagem na América Latina e ganhou alguns Grammys (dois deles agora na década de 2000, pra quem achá-lo desimportante nos tempos atuais).
É. Roberto merece nossa consideração e por isso o coloco aqui, no meu humilde Caralho, tentando endossar as homenagens recentes pelos seus 50 anos carreira. Torço o nariz para muitas de suas posturas e canções, mas admito que cantarolo as boas letras do passado e tenho muita curiosidade por esse homem que canta para o Papa, mas se declara favorável ao casamento gay. Roberto tem todas as contradições de uma grande estrela.