sábado, 30 de maio de 2009

CALEB FOLLOWILL

O Kings Of Leon é dessas bandas americanas que só fazem sucesso na Inglaterra, o que pra alguns é sinal de mediocridade, pobreza, falta de colhões, e pra outros é a incontestabilidade do talento e da vanguarda. Afinal, a Inglaterra tem os Sex Pistols e os EUA, a Britney Spears.

A coisa indie, a estética que hoje, como me ensinou um garoto de 15 anos, explode distorcida numa tribo autodenominada não por acaso de “from UK”, tem na Inglaterra o seu reduto, a alternativa do pensamento inglês de se expressar longe da bizarrice capitalista que tanto caracteriza os Estados Unidos – e não tem vergonha em transformar qualquer arroto na voz mais bem paga da indústria do entretenimento –, se protegendo no chavão de que o que é bom é para poucos (tomando como parâmetro dimensões geográficas).

Kings Of Leon vem nesse embalo, assim como seus compatriotas da pop Scissors Sisters, que alegam não fazer sucesso na terra natal por serem “abertamente gays”. Entretanto, o KOL não é gay, muito pelo contrário, são mocinhos do interior, filhos de um pastor evangélico, que cresceram tocando em igrejas, cujos álbuns sempre trazem alguma referência à sua história religiosa e seu som tenta, ou tentava aludir às tradições do homem conservador, de família, “do campo”. Teria a Inglaterra se rendido à América conservadora ou os rapazes do KOL é que não são exatamente o que parecem ser?

Eu confesso que achava a pinta de moçoilos interioranos e antiquados bem sexy, numa declarada banalização do que é conservador. Hoje um homem tradicional desceu ao nível do fetiche e sobrevive sendo um objeto. É quase como o que me leva a ter um tesãozinho pelo Serj Tankian e sua ascendência de homem-bomba, e até pelo grotesco Kid Rock, e até pelo Chorão. Homens-machões, homens-objeto. É como chupar Mahmoud Ahmadinejad pra depois jogá-lo de comida aos poodles.

Mas aparência é só aparência, e, embora o histórico dos rapazes do KOL, eles se mostraram até bem fofinhos. Meio safadinhos, mas fofinhos. Tanto que há quem diga que não passem de uma boy band disfarçada. Não por acaso, todas as faixas dos seus primeiros álbuns foram escritas pelo produtor Angelo Petraglia, e tudo nos meninos, dizem, é muito bem dirigido. Talvez a mudança drástica no visual e no som do último disco, Only by The Night (2008), pra enfim conquistar os EUA, seja um sinal claro disso. O álbum traz um abismo de estilo do primeiro, Youth and Young Manhood (2003), que flertava mais com o “country rock”. Agora estão mais pops, mais urbanos, mais Nova York e Londres ao mesmo tempo. Isto não é ruim, o álbum é ótimo, não me canso de ouvir. Closer, Use Somebody e Sex on Fire são canções fantásticas, mas é como se fossem de outra banda, tão distantes de Red Morning Light e Wasted Time. E os meninos, antes bigodudos, cabeludos, botas de cowboy, agora são lisos, sarados, tchutchucos.

Caleb é o vocalista e um dos guitarristas. Tem uns agudos meio bizarros, mas conquista pela beleza desajeitada e até pelo encanto do seu olhar ingênuo e vesguinho. O cara cata umas minas aí, é fotografado bebendo, canta umas safadezas vez em quando, uns trocadilhos com a palavra “pistol”, mas é lindo, num sentido mais amplo da palavra. E já é um rockstar. O álbum de estréia foi tido pela imprensa inglesa como um dos dez melhores dos últimos dez anos (tipo assim, desde os Strokes, rs), sua banda ganhou o adjetivo de “notável” do pegador Elton John, que adora flertar com mocinhos maus (cadê o Eminem, falando nisso?), e excursiona com gente de peso como U2 e Bob Dylan, além de ser citada como uma das favoritas de super cults como Chrissie Hynde, do Pretenders. Não precisa de mais nada, né? Ê, lá em casa!

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