Ben Chivers, ou Christo, ou ainda Saint Ben Christo of Soho, já teve uma banda de hardcore, a AKO, e tem uma de “rock clássico”, a Night by Night, que é bem recente por sinal, mas o motivo para ele estar aqui, além “daquele” óbvio, é que integra desde 2006, talvez de gaiato, uma das bandas mais representativas do rock alternativo e dos anos 80 e, não fosse por Ben, talvez nem aparecesse por aqui, tão limitado é este espaço. O mocinho bonito aí é hoje guitarrista da soturna The Sisters Of Mercy. Precisa falar mais?
The Sisters of Mercy, liderada até hoje por Andrew Eldritch, é uma banda gótica (embora o rótulo incomode um pouco, quem sabe por soar caricato e constrangedor) surgida bem no começo dos anos 80 e um dos pilares do estilo, referência a todo maníaco-depressivo de plantão. Geralmente o termo mais conveniente seja “pós-punk”, mas este e “gótico” são conceitos que vira-e-mexe se confundem. Tem três álbuns de estúdio, First and Last and Always (85), Foodland (87) e Vision Thing (90), e algumas compilações e singles. Passou por várias formações diferentes, sempre com Andrew à frente, e vez em quando dão o ar da graça pelo mundo, sem, contudo, presentear os fãs com um quarto álbum.
Confesso que hoje acho a lamúria gótica demasiada juvenil, mas eu seria herege se não reconhecesse a transformação estética e ideológica que bandas como os Sisters proporcionaram. Era tudo início ainda, algo se apresentando ao mundo. Assim como Siouxsie, Bauhaus e algumas outras, The Sisters Of Mercy apresentou uma emoção nova, num tempo em que o novo ainda era possível. A fúria travestida de melancolia, a desilusão depressiva, o flagelo e o suicídio como opções adolescentes mais nobres que a entrega à burrice e à miséria de espírito. A tristeza que lhes afligia não era essa de hoje, desejada e afetada, era uma fatalidade, uma tragédia que os empurrava sempre a algum lugar.
Os Sisters não devem mais produzir nada inédito, muito menos transgressor, mas são desses artistas cuja história é suficiente pra mantê-los ativos e fascinantes, mesmo para jovens fãs. O problema é que Saint Ben Christo of Soho é menos que um coadjuvante nessa história toda, e acho que sabe disso. Jamais assinará uma obra dessa banda do passado, e por isso talvez invista em projetos paralelos, como Night By Night, do qual também é vocalista. Bem diferente, o NBN é quase uma banda poser, com um visual meio que exagerado, viado e démodé. Christo precisará de certo cuidado pra não errar a mão ali, e fazer jus a seu talento, a sua beleza e à experiência de um dia ter feito parte do sonho sombrio, mas elegante das “irmãs da misericórdia”.