Filho de poeta, Till também é um poeta. Não só por suas letras no Rammstein, mas literalmente. Cinqüenta e quatro poesias suas foram compiladas no seu primeiro livro, Messer, lançado em 2002. Além disso, é um músico bastante versátil, começou a carreira como baterista da banda First Arsch, já foi baixista, mas sua voz é que mais chamava a atenção e é hoje uma das principais a representar o metal alemão.
O Rammstein aconteceu em meio a escapadas do guitarrista Richard Kruspe (outro belo caralho) entre as Alemanhas Ocidental e Oriental lá pelo ano de 89, mas só se “profissionalizou” por volta de 94 após a banda vencer um concurso de amadores. A partir daí foram conquistando a simpatia de muita gente como Trent Reznor (NIN) e logo se tornaram um fenômeno do rock, embora sempre cantando em alemão. Essa é uma característica curiosa da banda, que evita ao máximo se render ao inglês, mantendo alguma originalidade e auto-estima cultural. Para a banda, o alemão combina muito bem com o heavy metal, porque “é a língua da fúria”.
Tanto amor próprio gerou algumas interpretações errôneas sobre os rapazes, que já foram acusados de fascistas, de enaltecerem a raça deles através de mensagens subliminares em fotos e outras coisas. Tudo negado por eles, lógico. E com razão. O Rammstein possui uma postura até bastante “moderna”, “avançadinha”, bem longe de toda a titica nazista. Suas letras xingam os padres que chupam menininhos, atacam a homofobia, além de abordar, pra dar uma chocadinha, o canibalismo e o sadomasoquismo.
O álbum de maior sucesso é o Sehnsucht (96), da estrondosa Du Hast, cuja tradução rende lorotas até hoje. Muita gente acha que o “hast” significaria “odeia” quando na verdade significa “tem” e na canção aparece como auxiliar de passado (assim como o “have” em inglês), o que é confirmado com o restante da letra (“Du hast mich gefragt”— Você me perguntou). A confusão se dá porque o “odeia” em alemão é “hasst” e a pronúncia, igual. Pra alimentar a confusão, a banda ainda fez uma versão em inglês da música intitulada “You hate” (“você odeia”). Pura gracinha.
O último lançamento é o Rosenrot, de 2005, mas a banda promete novo álbum pro ano que vem, apesar dos boatos da saída de Till, que foram desmentidos. A banda tem um estilo bem híbrido, que dificulta a rotulação, mas são aceitos numa cena chamada NDH, ou Neue Deutsche Härte, ou ainda New German Hardness, que é uma coisa inspirada na música eletrônica. A banda mesma inventou o termo Tanzmetall, ou Dance Metal, mas são populares na verdade como “metal industrial”, ficando no mesmo balaio que Marilyn Manson, por exemplo.
Till Lindemann é gostosão, tem cara de mau, de quem mete com força. Suas performances são um espetáculo à parte. Pra compensar o fato de que as pessoas não entendem o que canta, como ele próprio diz, Till recorre a pirotecnias e bizarrices diversas. Incendeia o corpo, se chicoteia, bate com o microfone na cabeça até sangrar, uma coisa de louco. Há quem diga que “outras bandas tocam, mas Rammstein queima!” e os colegas de banda afirmam que Till “queima o tempo todo, mas ele gosta da dor”. Os clipes também são curiosos. A este espaço interessa o de Mann Gegen Mann, do último disco. A música fala do sexo entre homens, numa tentativa de talvez soar simpatizante, mas o vídeo é meio toscão. A banda aparece nua, com “o que interessa” coberto pelos instrumentos. Ao mesmo tempo aparecem vários caras fortões se pegando. Till está com uma peruca horrenda, uma bota de drag, faz umas caretas, umas desmunhecadas, depois aparece com uma língua de cobra ou de lagarto, enfim, um absurdinho.
Mil vezes a performance de Bück Dich, canção do Sehnsucht, em que ele simula comer o tecladista e ainda bota pra fora um pauzão de mentira jorrando sem parar um líquido branco. Till até joga na cara o líquido. E tudo isso bem macho, colocando o mundo sob seu pau. E é assim que tem que ser: MACHO, mesmo tomando porra na cara. Nem mais nem menos.