Puta merda, esse é gostoso! Se fizessem uma lista sensata com os dez mais belos caras do rock, com certeza Mike Patton estaria nela. Se ele já chamava a atenção lá no comecinho do Faith No More, banda que o apresentou ao mainstream, com seus cabelos compridos e rostinho de moleque, o mundo se ajoelhou e abriu a boca quando Mike decidiu virar homem grande, cortando as madeixas, deixando algum bigode, alguma barbicha, e vestindo terninho.
Conhecido como o Senhor Mil Vozes, devido a sua “grande versatilidade vocal”, explorada exaustivamente nos seus últimos trabalhos, e que o faz para alguns um dos mais talentosos — e excêntricos — cantores do rock, Mike Patton tem se desdobrado há alguns anos em diversos projetos, incluindo parcerias com gente como Bjork e os nossos Bebel Gilberto e Sepultura. Os mais curiosos no entanto são as bandas em que investiu desde o fim do Faith No More: Mr. Bungle, da qual ele já fazia parte mesmo antes do FNM, Fântomas, que quase teve Igor Cavalera na formação, substituído depois por Dave Lombardo, do Slayer, Tomahawk e Peeping Tom. Exceto a última, com alguma classificação de trip hop no meio, todas são definidas como Avant-Garde Metal, conceito mais filosófico do que técnico, que significa no final uma mistureba de estilos e instrumentos que tornaria seu som algo transgressor, ou apenas “experimental”.
Experimentos, aliás, foi o que o gato sempre fez. Sua banda mais famosa, Faith No More, dissolvida em 1998, já inovava pelas misturas, que envolviam metal, rock progressivo, hip hop, funk, punk, jazz e alguma outra coisa. É considerada inclusive a precursora do que depois foi chamado de Nu Metal.
O Faith No More surgiu em 82 em meio a um troca-troca de vocalistas, que passou até pela perturbada da Courtney Love antes de chegar ao Patton. Foi este então que jogou a banda ao estrelato, compondo as letras do já terceiro álbum The Real Thing, de 89, e causando todo um frisson com o single Epic. Este disco é até hoje o de maior sucesso nos EUA, porém no mundo quem fez sucesso mesmo foi o Angel Dust, de 92, com a balada Easy, cover do The Commodores. Nesta época Mike já estava lindo de morrer e aparecia no clipe da tal música rodeado de transformistas. Do mesmo Angel Dust, vale citar a curiosa Be Agressive, na qual Mike insinua que gosta de engolir a porra de alguém.
Não só a porra. Reza a lenda que ele já se banhou com uma garrafa de mijo jogada da platéia, assim como já simulou mijar no palco. Fetichista ou não, mas sempre polêmico, ele também já pediu que fãs cuspissem mirando sua boca enquanto cantava. Sexy, não? Eu acho um tesão.
Outro disco que vale uma menção é o King for a day... Full for a life time, que contém uma musiquinha chamada Caralho Voador, inspirada na bossa nova e que até traz um trechinho em português: “Eu não posso dirigir / E agora aparece / Meu dedo enterrado / No meu nariz”. Pra quem curte, não deixa de ser uma homenagem. Nessa mesma época o FNM lançou como um single à parte a cover do Bee Gees, I Started A Joke, belíssima balada com uma voz e interpretação tão emocionantes que ninguém dizia ser o Mike Patton, mas era. A música entrou em algumas versões internacionais do King..., mas fez parte mesmo, com direito a clipe e tudo, do último disco, a coletânea Who Cares A Lot?, de 98.
I started a joke mostrou um cantor convencional, e comovente. Epic nos mostrava um moleque revolucionando o rock. Já no Faith No More, Mike Patton disse a que veio. Querendo a todo custo ser um camaleão musical, ao invés de apenas visual, como outros camaleões por aí, Mike é muitas vezes ironizado e até “rejeitado”. Eu mesmo não consegui ver por muito tempo os vídeos de sua apresentação no Brasil com o Fantômas. Era uma gritaria, uma microfonia, uma coisa insuportável. Era uma anti-arte, um anti-rock, como ele mesmo define. Tadinho... Tão bonito e tão incompreendido.