sexta-feira, 11 de julho de 2008

ALAN FERES

“Há quem diga por aí que o Rock and Roll morreu, a esses eu grito no ouvido: você ainda não me conheceu!”. Essa é uma das frases de Filho do Rock and Roll, uma das canções do primeiro álbum do Rock Rocket – Por Um Rock and Roll Mais Alcoólatra E Inconseqüente –, banda paulista de rock garagem. A frase está certa e tem um sentido tão específico quanto abrangente. Poderia falar do Rock do mundo, dizer que ainda há quem faça um bom (e velho, quem sabe) rock, mas prefiro falar sobre o rock brasileiro e como uma banda independente pode destoar, em qualidade e atitude, de uma banda comercial. É lugar-comum ouvir que o rock nacional não existe, mas quem diz isso não conhece boa parte da nossa cena independente.

É curioso admitir certas coisas, mas é fato que bandas independentes, por alguma liberdade que têm, conseguem fazer um som bem mais legítimo que as outras com patrão. As bandas nacionais do rock, principalmente as do rock oitentista, até outro dia maior símbolo do nosso rock, sempre se mostraram um tanto toscas e pop no som. Apresentaram bons letristas, talvez artistas sinceros, mas nunca bons músicos de verdade. Temos alguns clássicos, claro, mas todos frágeis, consagrados mais pelo apelo popular que por méritos “técnicos”, digamos assim.

Também não vou generalizar e dizer que bandas independentes são sempre a melhor coisa do mundo. Falta de recursos tem um grande peso na qualidade do som muitas vezes e não é raro ver que certas bandas têm muita boa vontade, e só. Não é o que acontece, no entanto, com o Rock Rocket (embora pareça que já estejam com gravadora, mas a Trama, que parece ainda ter alguma dignidade). A grande parte do seu som é realmente boa, é rock puro, liberto de pasteurizações, e as temáticas todas atrevidas, e divertidas. Tanto a faixa título do primeiro álbum, quanto Quem depilou meu rabo, Puro amor em alto mar, ainda do primeiro, e Os Legais, Ninfomaníaca, Pé na bunda, Eu queria me casar, do segundo e recente disco (homônimo à banda), entre várias, são sons muito bons, clássicos desse nosso novo e velho rock brazuca.

Os caras do Rock Rocket se mostram quase sempre como cafajestes, bêbados, vigaristas, fazem um som quase despretensioso e muito, muito jovem, um rock moleque. Falam de cerveja, butecos, sexo, música e algum pé na bunda. Tornam-se sexies, como todo cafajeste.

Alan Feres é o baterista e talvez o mais tímido da banda. O mais sujinho também, barbudo e tal, talvez o que acabou me chamando a atenção. Mas nenhum deles é feio, são um trio (com Noel na guitarra e vocal e Pesky no baixo) bem gostosinho até. Também parecem ser uns caras legais, simples e sem preconceitos, mesmo imersos num universo relativamente machista e escroto. Eu tive a curiosa experiência de conversar com o Alan pessoalmente, numa entrevista pro finado GrindZine, publicação simpatizante de rock e cultura em geral, e o moço deu declarações bem interessantes. Disse que não tinha medo de a banda ser vinculada a gays por estarem num fanzine desse público, porque era apenas uma banda de rock falando sobre rock pra quem curte rock. Também afirmou não querer que seu público seja machista ou homofóbico, apesar de algumas temáticas de suas músicas, e indagado sobre o que achava sobre o fato de alguns gays curtirem o seu som, foi bem simples: “Não vejo muita diferença entre gays e héteros. É só gente que gosta de rock. O rock é que atrai”.

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