De todos esses artistas gays que se pretendem agressivos, de todas essas bandas gays que buscam se mostrar equiparadas na macheza com as hétero, Limp Wrist é, para mim, a das que mais se aproximam dos seus objetivos. Dona de um som punk/hardcore quase inaudível de tão rápido, pesado e berrado, Limp Wrist não tem frescuras quando toca. A música é suja e as letras não têm meio-termo, não têm entrelinhas, a porrada que já é forte no som fica ainda mais destrutiva com os berros de I Love Hardcore Boys, sua música mais famosa. São os viados partindo pra briga.
Com integrantes de vários grupos, Limp Wrist é uma banda norte-americana de queercore, talvez a mais importante do segmento e uma das que mais bem o representa, com seus integrantes e letras gays (entende-se por isso letras que tratem de questões importantes ou relativas aos gays, como cidadania, preconceito e, claro, sexo) e o som realmente hardcore/punk, já que hoje o termo queercore é um conceito que abrange bandas de outras vertentes do rock ou até da própria música em geral. Quando li sobre eles pela primeira vez custei a acreditar que isso realmente existisse. Uma banda gay com um som tão pesado era simplesmente surreal. Até então o papel do gay no rock se limitava aos armários de gente como Rob Halford ou a sons mais suaves como os do Placebo.
Tal agressividade e peso vinculados a gays, porém, parece ficar só na propaganda. O número de homossexuais assumidos a integrar a rede de fãs da banda é menor que a de héteros. Além do número de gays roqueiros parecer ser de fato pequeno, ainda é menor quando se trata do específico tipo de rock que o Limp Wrist faz. Fãs gays de David Bowie, Nine Inch Nails, Sisters of Mercy, Marilyn Manson, Queen e outros mais audíveis são muito mais numerosos. Mas o que importa é que Limp Wrist existe para mostrar que há bem mais diversidade dentro do gueto GLBT do que se possa imaginar e que os estereótipos são ainda mais tolos quando se assiste a um show seu.
Limp Wrist surgiu pelos anos 2000 e tem três álbuns lançados. O último é The Offcial Discography, com todos os sons da banda (com músicas curtinhas, como manda o bom punk, o tempo total de duração é de mais ou menos meia hora). Seu líder é Martin Sorrondeguy, ex-vocalista dos Los Crudos, banda que cantava a realidade dos “latinos” na América. Entretanto, destaco hoje o guitarrista Scott Moore, esse interessante urso loiro.
Curioso é que no próprio Myspace da banda, Scott é definido como “bear” (urso) e penso como esse movimento tem crescido no meio gay, até bandeira ele tem. Há quem critique, já que um estereótipo (no caso, homens gordos, peludos e, muitas vezes, velhos) não serviria para acabar com outros (os das barbies, das quás-quás...). Além do mais, os ursos, como todos os outros subgrupos, seriam fechados e preconceituosos. Sempre há um pouco de exagero no olhar dos outros sobre tudo, mas nunca nada é totalmente mentira, invenção. De qualquer forma, rótulos e estereótipos à parte, o universo dos ursos é bem interessante na sua proposta de recuperação da virilidade (é inclusive entre os ursos que mais se encontra roqueiros e até adeptos do sadomasoquismo) e afronta a padrões estéticos vigentes. Traz um novo ar ao já velho e tedioso mundinho gay. E pra quem curte, Scott é um belo exemplar.