Xande é o homem que substituiu a máquina. Até 1995, o Pato Fu usava uma bateria eletrônica, mas decidiu humanizar esse lado da banda e chamou o músico mineiro para ocupá-lo. Com dois discos já lançados (Rotomusic de Liquidificapum, de 93, e Gol de Quem?, de 94), Xande estreou no terceiro do grupo brasileiro com o semblante mais indie que já se viu, Tem Mas Acabou, de 96.
Quase sempre independente, o Pato Fu talvez não tenha sido devidamente valorizado. Faz um rock/pop às vezes engraçadinho, às vezes mordaz, mas nunca óbvio. Há quem ache a banda “fofa”, adjetivo fortificado após a explosão do conceito indie na última década, os esquisitos anos 90. Fofucha como uma criança bonitinha que não faz mal a ninguém. Um grupo com um som alegrezinho, ingênuo, colorido, nem bom nem ruim. Injustiça, claro. Quando surgiram, indies eram bandas que, além de independentes, tinham uma aparência “nerd” (finalmente os “losers” ganhavam espaço) e faziam um som que tentava se despir dos exageros de qualquer estilo musical, sem deixar de lado qualquer proposta, fosse a rebeldia, a agressividade, ou mesmo a inocência. Não era exatamente rock, embora, como sempre, essa vertente é que tenha ganhado mais atenção. Como nerds nunca são populares, o “movimento” se desenvolveu à margem do show business e da grande mídia, juntamente com a individualista e introspectiva música eletrônica e a negra hip hop, outros estilos a moldarem os anos 90 mesmo sem o grande público perceber.
O Pato Fu é indie e nerd, na aparência e no modo como conduz a carreira. Dispensam padrinhos, seguem seu caminho com calma e liberdade (tal desprendimento rendeu até um histórico atrito com Milton Nascimento à ocasião de uma premiação musical, porque o medalhão da MPB havia entendido que seus conterrâneos negavam e até desdenhavam uma influência do seu antigo projeto, O Clube da Esquina). Seu som, por vezes parecido com o de desenhos animados, esconde letras não tão fofas assim. Há de tudo: tragédia, miséria, revolta, solidão, deboche... Essas coisas humanas, sempre ditas de maneira inteligente e perspicaz. Tiveram seu momento MTV, lançaram alguns álbuns como funcionários de Gravadoras, mas agora voltam à obscuridade dos músicos sem donos. O último lançamento é Daqui Pro Futuro, destes 2007. Disco um pouco ofuscado pela carreira solo da vocalista, que acaba de lançar um elogiado cd em homenagem a Nara Leão.
Um detalhe que sempre noto é que talvez clipes e rádios não foquem o melhor das bandas. Principalmente agora com o advento da Internet, sugiro que sempre que acharem algum valor em alguém, busquem pelo álbum completo e ouçam todas as faixas, mesmo que algumas vezes. Surpresas podem aparecer. No caso do Pato Fu, sempre aparecem. Vivo Num Morro, Nunca Diga, Porque Te Vas, Licitação e Um Ponto Oito são faixas que adoro, mas que não tocaram por aí.
A maioria delas do Televisão Pra Cachorro, primeiro cd que peguei da banda, lá pelo ano de 98, quando de cara percebi a tímida presença de Xande Tamietti. Fiquei encantado, eu não imaginava que poderia haver um cisne entre os patos. Ele não fundou o grupo, talvez não participe ideologicamente das criações todas, mas é o charme a mais que todo artista (ou conjunto de) precisa ter. Fofo ele.