sábado, 8 de dezembro de 2007

SUPLA

É fato: o mais bonito homem do rock brasileiro. E um cara um tanto injustiçado também. Sua obra realmente é um tanto dispensável, suas músicas quase sempre são bem ruins, as letras são tolas, “engraçadinhas”, com uma riminha óbvia. Pesa contra ele também o fato de se autodenominar punk vindo de uma família altamente burguesa, embora seus pais sejam políticos esquerdistas – mas de uma esquerda que não significa mais nada. Seus shows são mais interessantes, porque permitem que ele se expresse de maneira mais pessoal, improvisada, livre. Aí é que está o seu valor. Supla tem grande personalidade, diria até que a mais interessante dentro do rock brazuca, ao menos o comercial. A sua irreverência, despida de sua insistência em ser punk, torna-se coragem e ele passa a ser um dos caras de mais atitude da música [rock] popular brasileira. Comparado a ele, talvez apenas o Roger, do Ultraje a Rigor.

Só o Supla teria o cacife de fazer uma homenagem aos gays, com gírias bem específicas (“pega na neca”, “aqüenda”) e citando nomes típicos do mundinho das “buati” (mesmo que sua tentativa de homenagem soe constrangedora). Um homem hétero, famoso, do tipo que freqüenta os maiores programas de auditório... Sim, ele tem coragem, atitude, e valor! Seu novo disco, o mesmo dessa “Arrasa bee” (lançada em plena Parada do Orgulho Gay), é o Vicious, de 2006, e ainda traz a impagável “Porque eu só quero comer você”, frase que estampou cartazes imensos pela cidade divulgando seu show. Sim, isso é punk. O problema começa quando vai se ouvir a música...

E como essas, várias canções, várias atitudes. Supla explora o sexo, os costumes, a mídia, a política, de forma sempre debochada e até original. É um “performer”, um “show man”. Se tocasse e cantasse um pouco melhor, seria um grande rockstar. Pena que às vezes beire o clichê, a caricatura, como quando canta horrores como a “Green hair” – “Japa girl”, pros íntimos – e assume um posto de artista brega (“trash”, pros indies). Sua oscilação entre o genial e a bobagem o prejudica muito. Mas seu papel na música já está definido.

Para quem não o conhece, Supla estreou em 85, com a banda Tokyo, meio pop, meio rock, mas a banda acabou rápido, apesar das surpreendentes parcerias na época (Supla gravou a antológica “Garota de Berlim”, com a musa do punk, a alemã Nina Hagen). Depois aventurou-se em carreira solo, sempre com forte apelo sexual sobre sua imagem. Nos anos 90, ficou meio esquecido até que ressurgiu nos anos 2000 como o “rei dos piores clipes do mundo”, programa da MTV, e como o mais popular personagem da Casa dos Artistas, espécie de Big Brother com celebridades “b”. Voltou ao auge com o álbum O Charada Brasileiro (2001), vendido de modo independente, por bancas de jornal. Hoje em dia apresenta um programa de tv, o Viva à Noite, que não deve durar muito. 

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